quinta-feira, 23 de abril de 2020

Tremor

Tenho dormido menos.
Acordo porque quero
e desejo agarrar o dia
pelos cornos
como se ele fosse
um bovino enfurecido
comigo. A culpa de sentir tremores.
A desculpa de não ter culpa.
E depois lá vêm os Sanchos-
-Pança
quais escudeiros do indefensável
a levantarem pó
com pás de moinho
- queria dizer "paz"
como os erros que lhes apanhamos
na dialética de bom escrivão
de sala no hemiciclo da rede
"socialight"-.
fico nervoso, furioso,
aterrado com as musculadas
ofensas e injúrias da prepotência
e arrogância ignorante.
fico diminuído não pela puta
da retórica
mais pelo bullying-Pança
de escudeiros do indefensável.
E o desamor.
Tremores de perda por vir
e empatia pelas perdas
idas.
Como se morrêssemos de amor.
Sinto-me a morrer de amor
ainda antes de morrer de surto
de estupidez
e depois de gripes ou cancro
ou das doenças
que o universo desfez
nesta terra que se desgraça.
que desgraçámos
e onde se vê o poder da troca
num papel.
tudo a morrer de desamor
uns à troca
e outros por nem sequer
a poderem depositar.
confinei-me à religião das palavras.
que não fique uma por dizer
antes de morrer por amor.

terça-feira, 24 de março de 2020

enquanto escrevo 
diários/
relatos 
dos meus
encontros e perdas
neste cenário,
a guerra lá fora pára
por breves minutos
diários.
ao contrário
entras despojando-me
do livre-arbítrio
de escolher
entre mim e
a minha existência.
e a beleza
superficialmente
abre caminho
entre os meus poros
e por caminhos
devassos
e outros mínimos
até ao meu circuito
sanguíneo.
pulsando chegas
rápida e atroz aos meus
sentidos.
és um copo de vinho
que não bebo
e lhe lembro o sabor
frutado.
sozinho aqui
sou imenso com
tudo aí.
entras de mansinho
mas os estragos
não são cenário
de guerra,
só o cenário
da miúda que por
vezes em si
me "interpela".
minha pele na pele
dela,
poros abertos
e a sensação que
sela.

segunda-feira, 23 de março de 2020

olhos.
olho-os.
compasso
que se faz
arrastado
amarrado
ao regaço
do disparo.
mato-me de conexões
intra-nomininais
intra-anónimas
intra-nossa-parodoxais.
rechaço
traço uma meta.
cabelo cometa
que deixa a porta
ligeiramente entreaberta
à nossa intra-descoberta
e a ela
se fazer mais.
bebo um chá de gengibre
para o pleonasmo.
arritmia
já não sentia o sono assim
tão sonho-musculado/mascavado.
baixo-me e oiço tudo
do que os teus olhos dizem.
eu não estou contemplado
sou um cidadão acoplado
à certidão do nosso
desconhecimento.
ardem-me os olhos
do cloro
que decoro nos
versos que deixaste em
meu nome
na minha mão
na minha cabeceira/cabeça
a mais.
se fosse cego não
te tocava.
deixava as luzes
do teu momento
fazerem-se talento.
linguagem gestual
como braços no lago
ressoando ondas
como as sonoras
e as nossas horas
fora de tempo.
toco-te com pestanas
postiças
por me fazerem verdadeiro
em ti.
tocas-me com mãos delicadas
de um presente
a 1000 pés de profundidade.
lá não se ouve nada.
peixe-espada corta-alga
e algo para nós
sorvermos
antes dum beijo alva
na palma da mão
lavada.
sou teu se me quiseres
mariposa nadar.
concha.
beijo.
macho.
salga e mar-mulher
filtrar.
beija-me os olhos
invisualmente belos
ao teu olhar.



Binómio

tenho um coração 
binómio para ti,
quando sais eu fico
quando saio tu sais
quando saio tu ficas
quando ficas eu fico.
amas outro e eu não te amo.
amas outro e eu fico.
amas outro e eu não fico.
amas-me e eu vou.
amas-me e eu fico.
amas-me e eu também.
amas outro e amo-te a ti porém.
em cada batida
o coração binómio roda
em volta do teu coração.
roda aleatório
e cruzamo-nos
mais rodas do que não.
e será sempre assim.
e então?
vai e volta
que volto e vou
e se não estiver
deixa recado
e se estiver
estou para 
quem agora chegou.
chegaste e eu não vou.
vou mais tarde
se o ficar tardou.
tardemos a roda
do relógio
do coração binómio
de quem não ficou.
ficámos nós
logo após termos 
saído um do outro
para dentro de nós
próprios onde o amor
se guardou.

#poesia #poesiaportuguesa #amart #arte #palavradejorge #art #poetry #portuguesepoetry

quinta-feira, 19 de março de 2020

Volte-Face

mudei.
já não sou aquele
palerma do mundo
novo.
agora cheio de receio
sou um bolo de chocolate
e hopocrisia transbordante.
digo aqui
diante de toda esta
gente
que de ti é tão diferente
que afinal sou igual.
o mesmo mas
borrado de medo
de não ter visto
em ti a salvação
deste mundo
meu.
sou um bem
perecível como
chocolate nas bocas
do povo...
nada de novo
e o açúcar era o nosso
êxtase.
o nosso novo-riquismo
como o dos senhores
por cima dos polos,
dos fogos ou
dos sismos.
tocam os sinos
em rebate
bate
tão profundamente
que agora preciso de ti.
a mulher,
o meu feminino espiritual
a minha mãe
a filha.
o abraço que definha
na esperança residual.
sou chocolate negro
perto do deserto
duma fé.
quaresma
e quarentena,
morremos todos com
pena de não termos
nos detido no peito
certo
que para nós se ofereceu
a céu aberto.
dói-me o peito
e sei que não é mais do
teu desamor.
é a dor de acreditar
merecer o fim
desta vida,
desta inquinada pista
perdida.
até à vista
é vasta.
quem não acredita
não lhe basta.
bastardos uns dos
outros e das próprias
escolhas.
sacamos rolhas e bebemos
o fim do sangue
dum ressuscitador.
uma mãe
um filho, uma filha
um pai,
um neto, uma neta
avós
e a voz da frente de combate.
enfermeiro, médico,
luva, máscara, bata
ninguém se abate
mas caem.
e levantam-se da má sorte
ou da gente
da alma fraca
ou distraída
ou da inconsequência
que mata.
o amor é de quem
nunca saiu dessa frente.
e eu fui fraco
e passei para trás
da tua alma que arrebata
a vida na cara da morte.
amo-te e não posso,
não posso mais
escondê-lo,
seja da falta de sorte
da falta de excesso
ou da falta de nós.
espero que o teu
novo mundo volte.
que da tua face
volte
o sorriso que era
também nosso.

sexta-feira, 13 de março de 2020

Quarente Ama

Tirei o som,
desliguei o mundo
lá fora
e guardei-me cá dentro.
Admiro quem sai
quem sai pelos outros.
Heróis de guerra
na terra onde os afectos
ficaram de quarentena.
Não há abraço
não há beijo
não há sexo
não há jeito
de fazer sem deixá-lo
lá fora.
Fechamo-nos
porque nos fomos bloqueando.
Há ódio no laboratório
do medo.
Há desprezo pelo medo.
Há morte.
Há noite solitária.
Há nada lá fora.
Só o medo real
de não voltarmos.
Que seja por voltarmos
diferentes.
Melhores.
Maiores na compaixão
das palavras
e dos gritos ao preto
ao traveca
à puta
ao chinoca
ao rabeta.
Afinal somos todos
os mesmos na
palma da mão
no espirro
na cara com comichão.
Onde poderemos
pôr uma mão de amor
no futuro
se não deixarmos
de nos lembrar
da nossa humana condição?
Hoje durmo no chão
ou na cama.
Faço do mundo
a minha casa pequena
e cheia de amor ao longe.
Sempre fui bom nisso
mas falta-me o vosso
abraço
o beijo
o sexo
a mão que é a minha
também.
Lavo as mãos passando
tempo
sem que ele note que passou
o tormento.
"Já passou?" pergunto indolente.

domingo, 8 de março de 2020

Tigre de Bengala

debitamos lugares comuns.
desencontramo-nos
em tempos póstumos.
trepidamos cosmos
em velocidade warp
e estendemos anos
em luz
pelas sombras do contentamento
torpe.

não somos comuns
nem temos eventualmente
lugares para pintar
o céu da boca
com sabor a chá de gengibre.
sou um tigre
e tu Bengala.
um animal e outro
terra,
e por isso comuns
nos golfos dos incomuns.

cravo um incisivo
no peito da estratoesfera
e uma pata
no chão da terra
que {és tu}.
eu visceral
e tu viciante.
e perante isto
vale titubeante
apenas a seiva natural
do que é felino
no reino da luz ausente
e eu em ti presente,
encandeando {por oposição}
brilho.

cambiemos
e agora sê meu
céu da boca
e tudo o que quiseres
de mim extrair.
ou luz
ou cantão tigre.
escolhe antes
que este mar
nos colha
e o calor
e nos transforme
a palavra em calão
e gostemos
mais do que as maneiras
à mesa.

agora sou tua presa.

crava uma dor-boa-surpresa
do céu
ao eterno
limbo daquela terça
de madrugada quarta
onde eu era
menos metade
de homem
menos de um quarto
animal
menos de uma vida
teu.

domingo, 1 de março de 2020

O que Cesariny me ensinou

o que Cesariny me ensinou

que as palavras
para além de ti
só fazem sentido
se sorrires.
se me olhares
daquela forma
de olhos
se atirarem ao mar
com os marinheiros
na sua volta-não-volta
ao mundo.
que as palavras
mesmo escritas
ao contrário
- de frente para
trás-
não me trazem
o teu corpo
e os olhos
quando me atiraste
ao mar.
mas voltei
dos cabos tormentos
e das ilhas dos amores
e venho mais
velho. venho mais
desarmado
e mesmo de palavras.
porque o mundo
fez-me ver novas
como árvores
em jardins tropicais
que visito
lhes leio latim
e cheiro
o mesmo.
mas o teu cheiro
é mais do que
a salitra
que me arde os
olhos
lá de onde não
vi mais
do que vi nos teus.

#poesia #poesiaportuguesa #amart #art #palavradejorge #poetry #portuguesepoetry

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

olhos.
sinais de fogo
no além-fronteiras
de território
tomado à força.
ouso olhar de volta.

incendeio ou ensandeço?

passo o tempo
para lá da cortina
de fumo.

olhos.
menina dos olhos.
vista grossa
pelo minuto
e uma minuta para
fazer isto de novo.

resolvo não.
o passeio da alegre
arrebata mas
não veste.
muito menos
despe.

olhos molhados.
há prazer
nesse vidro duplo
que culpo
pelo seu primeiro
desleixado
premeditado
olhardevaneio.

cheguei.
pemaneceu-partiu.
pelo meio
ficou
o poema
que por mais não
conseguiu.

um habitué
dos filmes mudos
que realizo
resenho
risco
para estrofes
perdidas de
amores imperfeitos.

olhos.
colho poemas
em forma d'olhares perdidos.

domingo, 26 de janeiro de 2020

eles. os ricos.

fila. bicha.
precipitam-se
os donos do tempo
nos seus carros
a crédito
para as cortarem.

falam. estrebucham.
passam à frente
porque se aprende
com os credores.
não há educação
ou cultura.

fogem. batem.
esperteza,
e antecipação.
ficas na fila
esperando a tua vez
votando no menos
mau
vendo a mata a arder.

fome. bebedeira.
passam carros
sem luz de presença
passo a ser arrogante
porque sou o devedor
que espera
a sua vez.
se reclamo
sou mal-educado
se me calo
aceito o espertismo
espartano.

faustosos. bacocos.
reclamam as oportunidades
os salários
a criminalidade
a emigração
o racismo
e aos poucos
passam à frente
porque os "outros"
também o fazem.
os outros somos
nós. sempre fomos
nós.
não somos ninguém
e os donos dos
diamantes
não se enforcam.
e os donos
do petróleo
têm luz de presença
e avião para as Ilhas Caimão.
eles foram como
nós
mas pisaram-nos
e passaram
todos os riscos.
eles. os ricos.

sábado, 25 de janeiro de 2020

não se faz
deixar água na boca
como se fosse bica
de barragem
ou de Baco
selvagem e os sentidos
tomar.
a tua outra boca
sabe a água
como o mar
que da tua boca
faz saborear.
saudade é não
saber sabor
se tudo o que eu
quero
é saber te beber
de novo.
te fazer querer
jorrar.
é líquido que
a falta de ti,
nos faz menos
corpo.
sólida é a minha
convicção que devemos
mais à água
do que os rios
e à saudade.
mar amar.
mar te querer mar.
mar amar.

#poesia #poesiaportuguesa #arte #amart #art #portuguesepoetry #poetry #palavradejorge

olhos lindos escondidos
atrás do balcão.
descaídos pelas
histórias doutros
pela esperança
de brilharem.
de se encontrarem
afagados
pelo olhar vertical
numa vidraça
que te mostra inteira.
passei de soslaio
e não me viste.
não soubeste
que aos meus olhos
levantados
os teus descaíam
tristes.
eu sei da mulher
que aí está.
eu sei da beleza tua
que se curva
para dentro
abraçando-se
sua.
és tua e no entanto
falta-te o espelho
do que em ti
é mais belo.
tu.

#poesia #poesiaportuguesa #poetry #portuguesepoetry #arte #art #palavradejorge

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

o amor é

o amor é uma lista
que acaba na
primeira linha.
ainda que faça sentido
apanhar aquele
comboio.
linha de Cascais
de volta e de ida.
é uma linha
com uma lista de coisas
por fazer.
como o amor.
o amor é uma lista
de coisas por fazer.
uma das coisas
é renuciar a esse pecúlio.

a minha amiga disse-me
para não repetir
e agora repito
linha com lista
e ida que dista
com a memória dela
na volta.
que detesta
e se revolta
de não perceber.
amor é não compreender.
aceitar e depois
espernear.
escarnecer a sorte.
a puta da sorte
e duma mais alta razão
se erguer.
o amor é voltar
à razão. sereno.
terreno de me deitar tesão.
ela vir-se mais do que
a minha exibição.

o amor é ela já ter
tomado
o teu cheiro
o teu sabor
o teu rubor
o teu silêncio
o teu amor
a tua falta de amor
a tua masculinidade
a tua feminidade
a tua palavra velada
a tua poesia
a tua estrada

o teu fim
o teu nada

e tudo ser finitamente
fácil. confortável.
sofá
cama
leito
desnatado.
práctico. táctil.

sonho com
ela de olhos abertos.
olhos verdes
olhos castanhos
olhos lacrimejando
a falta de futuro.
os olhos que lá longe
nunca voltam a se
encontrar no fim
daquela linha.
e no regresso
olhos escuros
olhando-me sujo
higienicamente
impuro
hermeticamente
injuro voltar a ser
de alguém como
de ninguém.
nunca fui meu.

o amor é
não ser meu

se não
tive o que o
inferno
e o céu quiseram
para mim.
e se não vou
para lado nenhum
porque hei-de amar
assim?
de alguém.
de mim ou deles.

o amor é
carne
e lobo que toma
as peles.
é instinto
do animal que fui
contigo.
das presas cravadas
na tua carótida.
fruí longa e rápida
a noite
que em nós nunca
para o dia fugiu.

o amor é
uma lista infindável
que para nada serve
e tu não vieste às compras.
rouba a primeira
merda que encontres
e toma a fome
como a noite que acaba
lenta e rapidamente.

daqui a pouco já
é dia e o amor
ficou no tédio
das famílias
passeando as metas
adquiridas.
o certo de cada ítem
da lista.
nada mais
ou pouco para assinalar.
já não apanham aquela
linha
porque vão de carro
no sentido contrário.
tudo rotineiro, tudo ordinário.

uma pista:

o amor é a noite
listada de dia
que entra pela janela
riscada de tons
no corpo dela
no meu.
o amor é o corpo
que acaba na morte
e nada mais para
além dele.
para além dela.
o amor era...

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Palavra de Hoje: Misoginia

Por lapso
perdi-me da palavra.
Perdi-me por nunca
me ter sido nada.
Em tempos na porta
de entrada
aquela noite malfadada
traria o exemplo.
E depois a palavra
que lhe assentava
como uma chapada.

cresci do lado da mãe.
da mulher desvirtuada.
da mãe mais que mulher.
da mulher menos que fado.
deu ao mundo vida
e do fado só os dias
onde a voz ficou
guardada
           para o murmúrio.

o fado fazia-se desprezado
não pela voz
mas pela escolha.
pelo doença que toma
a mama
pela mama
que já não se toma.
nem de mãe
muito menos de mulher.
de fado.
de nem às paredes
lhe dar azo
nem uso
nem prazo.
tudo calado.

Misoginia
a palavra que desuso.
um triste fado.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Mesmo Chão

resoluções
para colmatar a inutilidade
dos dias.
caminhar para o fim
com a firme convicção
que disto no Ser,
no seu próprio Ego
e finita existência,
de nada serve.
ter consciência
serve para sofrer
antes de lá chegar.
todos os que
se abstaíram sabiam
disso.
e sofremos ainda mais
pelo que de bom
vive na parca existência
e que vai e vem
como astronauta
demasiado absorvido
para nos olhar
de frente.

Ai amor que flutuas
e desvaneces a dor!
Ai o destemor
que é viver rendido
à distracção!

vai e vem
e o fim chega
no corpo e no coração.
e reproduzimo-nos
para multiplicar a probabilidade
de mais de nós
chegarmos à mesma conclusão.
e ao mesmo fim.

mas o amor e
multiplicação da espécie
dividem os males.
podemos morrer
descansados
dos amores imperfeitos
e desculpados
dos amores
multiplicados.
somos os nossos deuses
da finitude
para que o céu
pareça mais estrelado
e alguém ao nosso
lado
menos só.
menos do que nós.
morremos
e voltamos
à terra e ao mesmo
pó.

amarei o chão
que piso
como o amor
espacial.
friso,
morrerei só
e só com
os que amei
na minha última saudade.
esses herdarão
o chão
que é tudo o que tenho
e tudo o que conheço.

sábado, 11 de janeiro de 2020

Sempre achei
que se instalasse
em mim a emoção
feminina,
uma empatia além-gajo,
uma intuição
de calçar o mesmo
salto alto delas
que levaria vantagem
como homem
e sobretudo
como ser humano.
Que seria a evolução
concretizada de ser melhor
por Ser apenas.
Igualdade na diferença
e saber diferenciar
igualdades.
Descobri a roda.
Fiquei a sós com
o mundo e dar-me com
todos,
mesmo os parvalhões
como talvez eu para
eles ou outros,
a desistir destes
numa auto-sobrevivência
dalailâmica
e num perdão ao próximo
como a mim.
Mas fiquei mais a sós
com os que amo,
cada vez mais a sós
e amar a ideia
de nós mesmo
que tenha chegado lá
a esse banquete sozinho.
E vão chegando
e alguns partindo
(não podemos estar
todos ao mesmo tempo
neste cantinho).
Vale neste estacionamento
grátis do peito
o jeito que se tem
para amar deixando
ir e ficar um pouco deles
enquanto viajam
para fora de nós
nos seus afazeres.
Mas o prazer de ser
mais do que só este
género e tipo
é saber receber bem,
doméstico,
sem letreiros luminosos
de convencer a entrar.
Entra quem vem por
bem, por vinho,
porventura amor.
A porta está aberta
mesmo que por vezes
não esteja,
deixo fotografias
no álbum de memórias,
luz nas janelas
das vistas mais lindas
e amor no leito
que de mim ainda se sente
quente.
"Volto já!"
de repente
se vier da minha gente.
Isso prometo. "Hoje sonhei contigo
e deixei-te torradas
na mesa para o pequeno
almoço.
Para que quando acordasses
do meu sonho
soubesses que ainda
cá estás
e que eu volto já."

#poesia #poesiaportuguesa #arte #art #amart #poetry #portuguesepoetry #palavradejorge

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Espelho a preto e branco

se te escondes
como te revelas
diz-me onde e prometo
não te prometer.
ficar em branco e preto
na cama
ou onde melhor
convier.
seja eu, o teu rebordo,
o outro ou outra mulher.
mas que seja com
cores quentes
em brancos e pretos
entre a escada e a parede.
entre o reflexo
e o espelho.
entre ti, eu
e o meio.
sem freio.
branco e preto
devaneio.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

percorrer a (m)ilha

quero que saibas que noutra vida seríamos pelo menos tentativa.
mas permite-me um dia destes
sermos pelo menos companhia
junto ao mar
ou a qualquer sítio onde os teus olhos abram janelas dessa bondade.
da beleza da bondade

esse corpo, o meu e uma ilha,
eu ilha
(eu ia)
seriam viagens de ir e voltar.
ser terra e amarar.
amarrar em mim
e libertar-te para que queres ser.
seres prazer, amor, mulher.
voltares a mim como à ilha.
à terra em que o teu mar
me torneia e me toca.
volta,
que os beijos serão molhados

serei só a ilha paradisíaca à qual vais viajar.
que te faça descansar a alma
e te leve e fazer-te
sentir-te mulher.
tens sido tanta coisa
de coisa tanta.
E a mulher,
que se cuida,
que se gosta,
que lhe gostem?
eu gosto.
gosto de ti.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

"Volto já!"

Sempre achei
que se instalasse
em mim a emoção
feminina,
uma empatia além-gajo,
uma intuição
de calçar o mesmo
salto alto delas
que levaria vantagem
como homem
e sobretudo
como ser humano.
Que seria a evolução
concretizada de ser melhor
por Ser apenas.
Igualdade na diferença
e saber diferenciar
igualdades.
Descobri a roda.
Fiquei a sós com
o mundo e dar-me com
todos,
mesmo os parvalhões
como talvez eu para
eles ou outros,
a desistir destes
numa auto-sobrevivência
dalailâmica
e num perdão ao próximo
como a mim.
Mas fiquei mais a sós
com os que amo,
cada vez mais a sós
e amar a ideia
de nós mesmo
que tenha chegado lá
a esse banquete sozinho.
E vão chegando
e alguns partindo
(não podemos estar
todos ao mesmo tempo
neste cantinho).
Vale neste estacionamento
grátis do peito
o jeito que se tem
para amar deixando
ir e ficar um pouco deles
enquanto viajam
para fora de nós
nos seus afazeres.
Mas o prazer de ser
mais do que só este
género e tipo
é saber receber bem,
doméstico,
sem letreiros luminosos
de convencer a entrar.
Entra quem vem por
bem, por vinho,
porventura amor.
A porta está aberta
mesmo que por vezes
não esteja,
deixo fotografias
no álbum de memórias,
luz nas janelas
das vistas mais lindas
e amor no leito
que de mim ainda se sente
quente.
"Volto já!"
de repente
se vier da minha gente.
Isso prometo.

"Hoje sonhei contigo
e deixei-te torradas
na mesa para o pequeno
almoço.
Para que quando acordasses
do meu sonho
soubesses que ainda
cá estás
e que eu volto já."

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Gosto de Ti como do Mar à Terra e de Ti a mim

"gosto de ti (...)
gosto (tanto) de ti"
e não me ouviste...
fizeste como se não
me ouvisses.

eu perdi amor
do amor teu
terra-firme.
atirei o meu batel
para me buscar,
meio perdido
meio para lá
do alto-mar.

"serei mar
e tu serás terra-firme."
farol que desenvolve
a rotação da luz
que me diz
enquanto o batel
em mares calmos se afasta

{luz-escuridão-luz}

"amo-te...
a- mo -te...
a - m o - t e ...
a   m     t ...
a       m         e
a      a       e     e"

esvaí-me em mar-alto
no meu mar-próprio.
no meu amor pródigo
e fecundado em marés.

"e és.
és tanto...
és..."

a amada das minhas despedidas.
há nada nas minhas feridas.
nem dor nem amor.
só ausência
de tudo e de ti.
e eu sou esse mar-todo.
de esperança no amor-próprio
e propriamente
no amor-alheio.

sou feio nos olhos
que choram este mar.
sou malévolo
por desamar.
sou marinheiro,
batel,
armada
e o meu próprio-mar.

não sou nada
sem te amar.

mas gosto de ti.
gosta tanto de ti
nos ecos que chegam
de alto-mar.
mas a luz do teu farol
não veio
ouvir nem me chamar,
segue altivo
para o salvamento,
para as boas vindas
de quem quer mesmo
chegar.
de quem vê no meio
da escuridão a luz,
de quem no dia
lhe produz
a sensação
de a ter procurado.
serás terra firme
e eu sempre mar.

indo e vindo
e tu terra para quem
quis ficar.

gosto de ti.
tanto de ti.
de mim mar
a ti terra,
da terra ao mar.
desterrado de amar.
de te amar.

gosto de ti...

gos... to de... ti

go che... go che...

che... che... che...

sábado, 28 de dezembro de 2019

houve uma altura que precisei da noite.
depois separámo-nos,
precisei de mim.
houve uma altura que a noite precisou de mim
e eu voltei mesmo sabendo não precisar dela.
um dia enfim, deixaremos de precisar definitivamente um do outro,
porque assim nos deixaremos
sem mágoas nem ressentimentos.
um dia voltarei a ser só meu
e ela dela,
e cada um bem,
caíndo no devido lugar.
um destes envelheci
e a noite não
e com isso amá-la-ei
à distância com as luzes
que lhe deixei,
os beijos que lhe soprei
e o corpo que
nela não descai.
eu estarei com rugas
e expressão feliz.
serei mais que beijos,
terei sido elevado
à condição de sopro,
além da noite,
da velhice
e dum amor que foi
mais do que eu.
fecharei os olhos rugosos
sorrindo sem saudades
porque sei
que essa minha noite
será serena.

#poesia #poesiaportuguesa #arte #art #amart #poetry #portuguesepoetry #palavradejorge

https://www.instagram.com/p/B6YsLt1HRp_/?igshid=1f3jx3wyothf1

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Palavra de hoje: Crença

tenho um dicionário
de bolso.
um que decifra palavras
para ti
e relutante
assoma dos teus silêncios.
entre os erros
e as inconstâncias
do ser
- dos seres -
e de sermos
ou inexistirmos um
com o outro,
relevo e espero
o teu.
esse teu tanto
de palavras certas
no acervo do teu erro
e as erradas no meu erro.
os teus silêncios
da mais cristalina
água de beber camarão
que te sejam
fina flor
de crescer no meio
do silvado
e a presunção
de eu ser
urtigas na palma
da mão.
um travo a cor
e a inquietudes
feitas de cor
com o descolorido
dos teus dias
e dos cinzentos
do passado.
esse é o meu erro
que lavro por não
se poder tocar na virtude
do silêncio do teu
dicionário.
largo tudo de borla
se insistes
em ser flor de marcar
página
(sempre a mesma página!)
e vou inventar palavras
novas.
ninguém precisa de ser
a mais se não for para
acrescentar.
é um dicionário
que fala para os dois lados
mesmo em surdina.
imagine-se.
mas tudo cai por terra
quando se espera
do interlocutor
a soma
com a média da postura.
atitudes que descobrem
a palavra certa.
sinónimos da empatia
e menos da desconfiança.
perdoe-se-me a extravagância
mas até no silêncio
se traduz bem com bem
e outros
com outrém.
faça-se o que convém
mas venhamos por bem.
é o que tento
com o dicionário de bolso.
para que tenha
sempre o silêncio
e a palavra à mão
para entender
e dar a conhecer.

Palavra de hoje.
Crença.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

COSMONAUTA CATATÓNICO

catatónico.
cosmonauta
perdido no teu
espaço.
na orla de um paralelo
tempo.
assento o meu conhecimento
no teu convite.
em "repeat"
à exaustão.
convenço-me
que é eufemismo.
dramatismo a cada
lua no errado signo.
perdido no teu
espaço.
sobrevoo canções
interestelares
para me levares
até onde eu deva estar.
estou onde
não estou e onde devia.
passa-se mais
um dia como anos-luz
e tudo o que supus
suponho
ter falhado.
cosmonauta
catatónico
sem falta nem
presença.
morri à nascença
para te ser universo
mas no verso
vem escrito que és paralela
e em infinitos
repetidos
comigo lá no meio.
como sabes tanta
da minha ignorância
para lhe dares
caminho e distância?
largura e longitude
dum espaço
onde amiúde
se descobre próximo
entre nós?
mas eu sei
que há lá big bangs
gang bangs
jet lags
e toda uma linguagem
que eu prefiro
não esconder.
sou poeira cósmica
até da vista se perder
por esse negritude
ser mais corpo
com tudo o que ainda
tens nestes anos-luz
que imagino
descorrer.
a generosidade
traz-me vida e velocidade
para aprender.
cosmonauta
catatónico
polifónico
na penumbra
do ser.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Na Alma da Mão

nada é teu
nada te pertence
e a vida é efémera
como a areia
que se precipita
pelas mãos
pelos dedos
ou pelo deserto
em que te fizeste
caminho.
não se permanece
sozinho
quando a vida é
tomada com goles
lentos e sedentos
de amor. esse amor
que fica gravado para
sempre e te liberta
para sempre.

ama como o vento
que desenha
com tempo a arena
a céu aberto
desse caminho descoberto
e desconhecido.
as mãos trémulas
passam a ser guardiãs
do coração dos
outros até voltarem
a ter peito e pulmão
para socorrerem a
quem outros lhes falta
a mão
o abraço
o traço da terra
que começa o céu
e onde o fim
é esse começo.

não nosso
mas do senhor
da natureza
do acaso.
faço das palavras
alheias
as que escritas
nas goteiras
nas trincheiras
ou no sopro do ar
roto nas persianas
nos fazem pequenos
do tamanho da efemeridade
humana.
para sempre
nas palmas das mãos
onde um dia o
coração se albergou
para seguir viagem.

terra de ficar mais
do que o plano
do que um qualquer ano
ou qualquer outra
medida que cativa
a mais sentida permanência.
mais tremor no coração
e memorizado mapa
de voltar
das andorinhas
e do instinto.
sinto muito
tudo o que não cabe
nas mãos
no peito
e nos planos
que guardavam
outros
planos para mangas
leite de côco
e plantas medicinais
de outras
segundas núpcias
ou terceiras idades.

obrigado é agradecimento
de voltar
e respeito de cantar
com o sorriso
a cada reencontro.
parti
voltarei
para te lembrar como
é bom recordar
em cada
partida a permanência
nessa linha da vida
que levanta destinos
na palma da mão.
na calma do coração.
na alma da convicção.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

ELECTRO TOQUE

sou sempre eu
que fico, mesmo
estando longe.
longe do toque.
do amor de electro-
choque.
longe de fazer
uma vida.
cada um faz
uma vida
e eu faço tantas
mesmo parecendo
pouco,
parte de um todo
ou só.
acordei louco
a meio de um sonho
dentro doutro.
nesse outro
eras tu louca
por me encontrares.
acordei desse sonho
e estavas tu lá
beijando-me como
da última vez.
e eu fiquei feliz.
e acordei desse
sonho interno
para o externo
e aqui não estavas
nem no teu peito...
no teu externo.
e nunca estarás.
e nunca estiveste
como as nativas.
as negativas
das minha mais positivas
demandas.
natividade.
actividade de escolhermos
rumos
que ficam aquém
dos nossos sonhos.
caíste-me de sonho
em sonho adentro
e custar-me-á
deslindar mais esta
nativa
que dentro de mim
fica cativa
até cá fora
na rua dos meus
sentidos
sentimentos
seguires na vida
que era já tua.
e eu de novo
sigo numa outra avenida
esperando
tudo que não
seja de tua influência.
da tua ingerência
nos meus sonhos
de sonhos.

domingo, 22 de dezembro de 2019

Noite Serena

houve uma altura que precisei da noite.
depois separámo-nos,
precisei de mim.
houve uma altura que a noite precisou de mim
e eu voltei mesmo sabendo não precisar dela.
um dia enfim, deixaremos de precisar definitivamente um do outro,
porque assim nos deixaremos
sem mágoas nem ressentimentos.
um dia voltarei a ser só meu
e ela dela,
e cada um bem,
caíndo no devido lugar.
um destes envelheci
e a noite não
e com isso amá-la-ei
à distância com as luzes
que lhe deixei,
os beijos que lhe soprei
e o corpo que
nela não descai.
eu estarei com rugas
e expressão feliz.
serei mais que beijos,
terei sido elevado
à condição de sopro,
além da noite,
da velhice
e dum amor que foi
mais do que eu.
fecharei os olhos rugosos
sorrindo sem saudades
porque sei
que essa minha noite
será serena.

eu não me importo de não te conhecer segredos e intimidades. acho que merecemos as nossas coisas e quem nos leva por diante. somos tudo e até as nossas fraquezas. algumas expomos outras recolhemos e nas forças podemos fazer o mesmo. não me importo de não te conhecer na totalidade se o que conheço é real. isso basta-me de ti.

#poesia #poetry #poesiaportuguesa #portuguesepoetry #prosapoética #arte #art #amart #nataltodososdias

https://www.instagram.com/p/B6WU-qlHY6x/?igshid=1eo6q0yu47ehl

havia ainda tanto
por descobrir.
eu sei que tinhas
tudo para mostrar
e eu prostrado perante
a minha inócua
presença neste mundo,
protelei.
sou um proletário
e tu um rei
na barriga duma
mulher.
eu não sou esse
que tu te dizes
mas sou tudo o resto
que dispensaste.
na nossa despensa
fica a despesa
por conta da casa.
volta se não tiveres
mais nada.
sou bom com os "tudos"
dos "nadas" dos outros.
penso que é poesia
(pelo menos assim acredito
ser)
carne
com alma descarnada.
apelo ao teu sentido
de não permaneceres
sentida contigo própria.
não é culpa de ninguém.
é o que podemos dar
se é que existe
algo para a troca.
não preciso.
isso não se cobra.
agora cobre-me
e abraça-me este sonho
que foi de ti esta
noite toda.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Noite Toda

havia ainda tanto
por descobrir.
eu sei que tinhas
tudo para mostrar
e eu prostrado perante
a minha inócua
presença neste mundo,
protelei.
sou um proletário
e tu um rei
na barriga duma
mulher.
eu não sou esse
que tu te dizes
mas sou tudo o resto
que dispensaste.
na nossa despensa
fica a despesa
por conta da casa.
volta se não tiveres
mais nada.
sou bom com os "tudos"
dos "nadas" dos outros.
penso que é poesia
(pelo menos assim acredito
ser)
carne
com alma descarnada.
apelo ao teu sentido
de não permaneceres
sentida contigo própria.
não é culpa de ninguém.
é o que podemos dar
se é que existe
algo para a troca.
não preciso.
isso não se cobra.
agora cobre-me
e abraça-me este sonho
que foi de ti esta
noite toda.

domingo, 15 de dezembro de 2019

encarnado contente

sentei-me
vislumbrando um
Pedro louco.
um homem tão
certo
como as minhas
certezas inócuas.
tão desacertado
do amor
até por ele
ser enganado.
traído
vilipendiado.
esse é o Pedro.
chamo-me pelo
nome de acerto
com acervo
e conhecimento
do desconhecimento.
assim,
também com edição
às três pancadas.
com escrita
desembrenhada
e espontânea
às recentes badaladas.
são menos badaladas
do que a publicidade
engrena.
mas não engana
e fica assim
por quem contra ela
se estampa.
um belo acidente
sem conhecimento
do real perigo.
a mulher de outro
dissidente.
perigo constante
comigo ao volante.
no mar acaba sempre
um ponto de interrogação
sobre o que lá vai
distante
mesmo que seja
dentro de mim,
neste inconstante
prelúdio de acidente.
e que bela forma
de morrer,
se não duma maneira
rápida de bem,
de maneira penosa
mas com
um fim também.
com vermelho
mais espampanante
do que realmente
o sangue contém.
encarnado contente.

sábado, 14 de dezembro de 2019

nunca farei a guerra
dos sexos.
jamais entrarei
no reino do xadrez.
e da perda
e do ganho sou
o que menos despojos
tenho.
mas sei tudo
o que tens.
sei mais do que
muitos
e todos juntos.
e antes que chegue
alguém te digo.
não luto
nem faço a guerrinha.
sou do amor
e da terrinha do
peito,
onde cabe o corpo
o coração
e o espelho.
olha-te em mim
e verás muito mais
do que futuro.
ver-te-ás na mulher
que desejas.
ver-me-ás no homem
que desejas.
mesmo que não seja eu.
mas estou aqui até tu
nunca verdadeiramente
mais me quiseres.
eu saberei.
mesmo que seja eu
já cosmos
ou pó dos céus.
"os meus olhos teus."
os meus olhos teus.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

e pé de dança
de quem não dança
mas que a vista alcança
a beleza interior.
dois dedos de conversa
e a pressa de chegar
com atraso na partida.
bom partido
é um beijo remetido
para o encontro
anterior.
posteriormente
dançou o cosmos
com a gente
e eu inocente
deixei-me com o ingénuo.
fiz-me clarividente
e antes que o seguro
morresse de velho
guardei-o num presente.
um que o cosmos
anuisse
e regressasse do futuro.
esse da saudade
e do apuro
da inverdade de sermos
um.
graças a ele que não
por tanto
que nos diferencia
como
com o que
nos compactua.
ja viste esta noite
a lua?

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

toma este sopro
que parece
um polegar sobre
outro.
uma palma de mão
que cuida a planta.
a do pé mas como
jardineiro
que trata do jardim.
a planta da massagem
virtual.
onde o mundo encontra
o ser.
devíamos caminhar mais
descalços.
abraço um pouco mais
os espaços
que sobram na distância.
aperto-os para perto.
uma massagem de pés
virtual.
umas mãos que rogam
ao céu a energia
do bom.
que regam as plantas
com o dom
de as ver crescer.
e a planta do pé
que namorou o chão
descalço.
como um abraço
que vai daqui
até aí.
abraço-te a planta
que tem raíz nesse chão
e desse azul
que também em ti
é céu claro.
céu de sol.
planta de chão
de pé seguro.
pé descalço
é pé de descanso.
ao pé do descanço.

PRESO-ARBÍTRIO

pulmão de acordeão... velho
semi-roto mas abafado.
a música é um momento
desalinhado e o amor
não vive ali.
já não há folclore
da infância.
já não há beijo atrás
da igreja.
deus também não foi
à festa
nem veio tocar ao absurdo.
deixou-nos escolher.
"preso-arbítrio"
de soltar cacofonia
desmazelada na rua
deslavada.

deus não asfalta nada
nem o homem sabe
para onde vai.
e eu sigo no mesmo
caminho
com o pulmão
encarcerado como
acordeão sem ar.
dissonância
de num homem viver
criança ingénua
na terra dos crescidos.
desterrado
e para lá de nós
ser um tom errado.

caminho lado a lado
com a ideia do futuro
e eu ligeiramente
atrasado.
um dia tocarei no teu
casamento.
talvez ao teu lado
talvez ausente.
depende se deus
veio pavimentar
o chão onde o meu
pulmão se sentiu
incoerente
e tocou tantas vezes
quantas as vezes
te silenciaste.

era eu do outro lado da
porta
tendo saudades do futuro.
acordei assim
no peito
com um susto
querendo dar-te tudo.
nem que fosse caminho
para onde o homem
não sabe deslocar-se.
e o peito
pesado
é um acordeão arfando
de desejo. toca o desejo
de madrugada.

ter saudade do futuro.
olhar em frente
saíndo desse fúnebre
tempo que ali ficou...
definhando.
deixei lá o saudosismo,
esse de matar o coração
aos sobreviventes.
quero viver e ter
saudades.
mas é do que ainda não
foi.
do que ainda não sou
e do que ainda não fomos.
beijei-te para sempre
e nunca saberemos
ao que saberá nos próximos
verões.
terei saudades dos verões
adiante
ainda que me aproximem
da morte.
mas prefiro morrer de vida
do que de saudade do que
vivi.

domingo, 8 de dezembro de 2019



https://www.instagram.com/p/B5zSou1HcXS/?igshid=vbkc305sc51f

o poder da cura
de quem com mãos
treme a calma que dura.
serena segues no tempo
e tua.
tão tua e de quem te entregas nua.
de alma à pele que deslumbra
na penumbra da luz
que contigo se deita.
a paz dos teus olhos
como a audácia
deles sorrindo.
são os mesmos
quando atravessas
as vidas todas
colhendo
mais alma do que
alma já infinita.
e eu só te quero a pele
para não te perder
na alma.
assim vivemos mais
até que ele não mais
trema.
não mais queira
a sua própria pele
e vida.
só o sorriso sereno
desses olhos
e da morte desprovida.
és muito mais
do que sempre
e do que saudade.
és tua e não te quero
só para mim.
esse sorriso traz
tudo e tudo trará
aos olhos que nada
viram.
és cidade
nas ruas que gemem
solidão.
és tarde que antecipa
as noites da solidão.
és manhã
de toda a antecipação.
deixei torradas
na próxima vida
ao pequeno almoço
para ti.
sei que sorrirás.

#poesia #poesiaportuguesa #portuguesepoetry #poetry #arte #art #amart #palavradejorge

https://www.instagram.com/p/B5zSou1HcXS/?igshid=vbkc305sc51f

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

perdi vontade de ser
o estóico.
vou-me perdendo
para o velho
que me quer a juventude.
o adulto em mim
nunca existiu nem podia.

podem ficar aborrecidos
com esse quando emigrar
para a minha velhice.

nunca soube
a medida certa na boca
dos outros
(qualidade dos adultos,
foi-me dito).

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

siderais IV

quero entrar nesse corpo
e deixar-te com lembranças.
memórias novas
que deixo para lá das luzes
dessa magia de todos.
eu sou de lá
- para lá da hora
em que se desliga a corrente-.
sou a magia do dia-
a-
dia e mais presente
do que a luz que se liga
sem se estar efectivamente
presente.
por isso quando estiver
em ti
tu estarás em mim
com o teu semblante
de quem ama as luzes.
e eu serei a luz
quando as luzinhas
da magia de toda a gente
se apagarem.
terás a magia das noites
de dezembro.
a luz do dia de todos
os dias e de todo o tempo.
e as luzes que se apagam
aí dentro onde eu volto
para a ligar.
onde o tempo
de dia desligadas
ligamos com a luz
da janela a entrar.
a luz que verás nos meus
olhos quando em mim
entrares.
fica com o meu corpo
e um amor diferente.
de dois mais dois
onde tu és duas.
as luzes, das luas
das tardes das
peles nuas
e das noites nas ruas.
ofereço-tas...
são todas tuas!

#poesia #poesiaportuguesa #arte #art #amart #portuguesepoetry #poetry

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Puzzle

bem sabes
que nunca ficaremos
para sempre.
a culpa é dos nossos
corpos.
(de todos os corpos)
a moeda de troca
para o teu amor
como a poucos
e o meu interesse em
ser culto.
e o sexo será oportuno
sempre... porque estaremos
nas translacções.
nas tesões de cada um
como que indo
e vindo.
rir é preliminar
e vir é regresso
das constelações
onde meteste uma pastilha.
o que tu queres no meu
corpo
quero eu da tua mente.
esse amor latente
que nunca será mais
do que o menos etéreo.
mas não seremos eternos
senão em tudo o
que aprendo contigo
e tudo o que sentes
comigo.
toma-me como químico
e faz-nos ir
e vir.
até que não devamos nada
um ao outro.
até que a moeda de troca
passe a ser ouro
que vemos um
no outro.
sou amante de todos
os universos paralelos.
por isso nem sempre
me verás.
estarei com eles.
com elas.
com corpos.
convicto que não terei
deles o que tenho
de ti.
terei bocados.
peças de puzzle
e o busílis.
serei partes
como sou desapego.
ser-te-ei extremos
distante e terno.
ser-te-ei e deixar-te-ei
ser.
quero viver tanto
no teu sexo como
no teu nexo.
enquanto for certo.
enquanto for sempre.

Sonho Sonhinho

Vai um poema
poeminha do sonho.
Do sonho
sonhado contigo.
De quem ama
e vai sonhando amar.
Vai amor em forma
de poema
se um dia te faltarem
as palavras
para reconheres
o amor nos olhos
doutro sem palavras.
Vai um sonho
sonhinho
para te despertar
para sonhos
de um dia
poderes cantar.
Quem disse que
é preciso uma voz
bonita para voltar
amar?

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Buarkisses

sentado junto ao rio
que desliza a jusante.
(como justo é o curso
para a foz).
como estando parado
desando para trás
enquanto o curso
do rio fosse um de nós.
de onde vim
e todas aquelas
pequenas dádivas
enjeitadas por tantas
me encontrasse em ti
a mesma voz.
a que oferece e em
abundância.
regalar sem compromisso.
um exercício
da inocência perdida
e de rios que correm
de volta
para a montanha.
seguir contigo
é desaguar,
encontrar-te
e ser nascente
lavado de pecado original
e da versão.
das versões.
dos verões em que não
sabíamos poder sofrer
que rapidamente
chegam os próximos
e destes outonos
que nos despem
com mais esperança
no tempo que corrre
tão mais célere
como eu afavelmente
parado
neste rio que me faz correr
para trás.
trazes-me isto.
atrás mas desaguando
em novos mares.
palavras com 55 porcento
de água
da meia idade
e 45 porcento que lavam
dos pecados.
os restantes são rio
que corre
connosco parados.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Reza Profana

é o desafio
de te ser poeta
mais do que muleta
de qualquer coisa.
sei que és romântica
...
cada vez mais me convenço
disso.
quem merece o teu olhar
secreto é tão dono
do tempo.
e tu dona do tempo
de tantos de nós.
porque entre a mulher
forte,
a que busca a sua sorte
e a timidez de um sorriso
cúmplice
tu és todas elas
num só.
só esse ser que
merece isso tudo
e sorri ele também.

ser poeta
é saber que tudo se pode
ter com nada
e ser a amizade
personificada
num verso
num gesto travesso
ou num terço
de reza profana.
mas ama.
ama muito
e vai ao outro lado
do mundo.
porque tu és
tudo e tanto
e "só" uma pessoa
apaixonada.

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Salto de um Universo

Mirei-te por
uma colagem do tempo.
Ela perdurará
mais na memória
do que por uma pegada
digital.
Também não queimará
de luz e desbotará
(e que pena que as coisas
com o tempo já não
envelheçam).
Mas ficarás sempre
perfeita aqui
e na minha memória.
O primeiro dia
em que saltaste um
universo para me
ofereceres uma memória.
Há lá maior gratidão
do que receber como
prenda uma memória?
Do que sentir um salto
por nós para nos caírem
bem cá dentro do
nosso?

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

siderais III

cair nos teus
olhos azeite
de ouro
azeitona de outro
outono.
escorregar lentamente
e ser pecado
latente.
leite
na pele que te sente
sem te tocar.
sinto-me
debaixo da tua pele
presente.
sentes?

faz amor comigo
nos livros.
nos teus textos secretos.
na tua liberdade de voar
pelo alto da rotina.
do reencontro
da mulher esquecida
naquela colina.
sê mulher minha
da mulher que tens de ser.
ama-te como
me podes amar nesses livros.
sim. sê boa.
sim. sê plena.
sim. sê "minha"
se isso te faz tua.

domingo, 17 de novembro de 2019

Nos seus lábios o meu coração

acordo por entre
sonhos.
dizem-me que sonho
por ter micro despertares.
mas no dia-a-dia
chegaste num sonho
igual.
num amor doutro
amor desses
tão elevados.
eu já fui assim
elevado ao expoente do
amor mais certo.
como tu
também presumo que
o certo passou
a ser um acaso
de destino.
mas definho nessa recordação.
amor de levar o coração
a ficar para sempre cativo.
resgatei a minha alma
para que pudesse
ser bondoso.
para ter no lugar
da vontade
gestos caridosos.
nem esse amor sabe
que é como tu
nem tu sabes
que ele também ignora
saber que me ficou
com o coração.
e cada vez que te vejo
lembro-me que tenho
ali o meu amor.
e cada vez que me olho
ao espelho
lembro-me que ao mundo
só posso ser bondoso.
a minha sentença
de vida.
a minha mais afortunada
saída para te ter aqui
no peito.
mas apenas com a cabeça
descaída para serenares
numa alma sem coração.
só bondade
de repetição
e a vontade
como obliteração.
sei o teu nome
mas dos teus lábios
só me chega
o nome desse coração,
lá onde mora
também o meu coração.

siderais II

existe em ti uma beleza
frágil. receosa de brilhar
convenientemente.
um dia quando
aceitares os olhares
que de ti se envolvem
verás com os teus
como se desabrocha
uma flor.
pensa num jardim
à beira-universo
plantado.
serás uma estrela
de ti
brilhando para tocar
quem amarás.
acredita que te amarão
mais pela luz
do que toda essa beleza
que ainda não vês.
e um dia as flores
serão mais felizes
porque as estrelas
são suas irmãs.

sábado, 16 de novembro de 2019

Trigais

e tu és o sorriso
dos campos.
tez de trigueira
olhos de fio de azeite.
primavera verão
outono inverno.
sorriso angélico
da bondade do coração
e do maternal cuidado.
mulher menina
rapariga senhora.
passam minutos
pela hora
e o tempo
é brisa por entre
os trigais.
vêm as estações
e as demais.
voou o tempo
e o sorriso deixou
sinais.
um sorriso meu
em poema
ao teu cuidado.
sorri
porque o mundo
é melhor assim
amado.

deixa a energia
ser corrente de ar
que nos avisa
que entre o poeta
e a musa
existe brisa.
um campo fértil
onde se semeiam
poemas.
onde deslizam os temas
do amor, da paixão
e do querer
para que também
se façam fruto.
que haja mundo
de ti
aberto de universo.
um progresso
nosso que alimenta
o mais elementar chão.
como é que nunca
te semearam brisas
destas?
como nunca te abriram
as janelas do coração?
ou pelas frestas de onde
a luz se escapulia
te pintaram de arte
a pele?
apelo-te ao sorriso
íntimo que guardes
a poesia na tua caixinha
de surpresas.
quando estiveres sozinha
as abras para os teus
prazeres.
para não te conteres.
para seres quem
tu quiseres ser
mas mais chão fértil
de ti em céu
de estrelas decorando-te.
sorri
com esses olhos
grandes em que apenas
eles conseguem
brilhar estrelas.
de te rever nelas.
és bela disse-me o universo
antes de te ver.
apenas sentia brisa.
sorria.
e agora sei por quê.
já existias nelas.

siderais

vejo-te esse profundo
negro que atravessa
o intemporal.
através do olho menina
que balança
na corrente calma
azeite de ouro
que os deuses
deixaram na terra.
cada qual uma estrela.
cada qual deixando
retratos de beleza ínfima.
e deslizo
ininterrupto
pelo teu seio infinito.
mãe natureza
que deu no negativo
beleza dos confins
deste universo.
lá nesse além
que parece não existir
estou eu
do outro lado dos olhos
verdes castanhos terra.
poeta das estrelas
das tuas telas
onde te pintei as costas.
eram asas de anjo.
franja sideral da respiração
levitante
fui e voltei num instante.
voltei e fui ao teu
seio avante.
descobri o beijo.
um ensaio de viajar
no tempo
desde o futuro
ao sempre
sabendo que nunca estive.
o tempo deixou de dançar
com o lugar
e eu só sou vento
que parado,
estagnado
aprende de novo
a beijar.
o peito. o seio. as costas.
as asas de voar
e ficar de novo
pela primeira vez
desde sempre
no teu lugar.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Amigo

andamos neste ram ram
de quem joga a disponibilidade
do terceiro
ou terceira
que de facto para um ou
outro é na verdade
primeiro ou primeira
não queremos a exclusão
de partes.
não queremos ficar
de parte.
eu sei lá.
eu aprendi a ficar de parte
tantas vezes
por não me encaixar.
amo até à morte
essa dislexia de amor.
de não ser conveniente
nos parâmetros.
convidamos e tentamos
ou então ficamos
contentes com o que temos.
também fiquei.
também deixei.

só posso ser fiel
a essa distância familiar
de amigo.
ainda que uma montanha
de prazer
se torne castigo
e um "vale a pena"
se afigure abrigo.
sou um perigo distinto.
para mim teria sido.
morri e de novo
vim à vida.
contido.
e depois com toda a ganância.
quero estas vidas todas
que em mim se tornam
tantas.
pinturas
poemas
horas
dias
vidas. vidas até às tantas!
e logo se vão
e levam sempre de mim
e no lugar uma árvore,
pequena fica
para crescer com os seus
frutos.
bucólico fico
na saudade de todos.
melancólico
no futuro
de nunca nos vermos.
mas fruto de vós
amores.
de sermos o que os olhos
não abrigam
e o que se sente
ser pátria nossa.
e o tempo passa.
e todos se tornam
povo do meu querer.
da minha estima.
havemos de nos
encontrar pelo
menos mais uma vez
nesta vida
de vidas que se avizinham.

Vazio Pleno

Vazio.
nada para dizer
senão as palavras
todas que tivemos
no futuro.
ficaram lá.
ou por minha culpa
ou por suas
recusas.
e sempre assim será
até acabar em nada.
preencher almas
com alma
da que me resta.
serei sempre o que
se apresta
a acreditar.
e a acreditar no contrário.
completo
de vazios
e vazio de plenitude.
e aí começa tudo.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

morreu num abraço

rodo histórias
a fazer tempo.
um complemento
para estar desatento
da morte
e do tempo que lá
chega. chegará.
morreu e um abraço
que não se deu.

uma palavra que ficou
agarrada à conversa
que também
zarpou.

eu e tu e a vida.
a longitude
a ermida
e tu.
despida na minha voz
desnudada.
os dois e a morte
dispensada.
"como foi o teu dia?"

e rodo mais estórias
e lamentos
e injúrias.
acusações
e amizades surdas.
atentas mas surdas
amizades que já não são.
teriam sido em alguma
altura?

talvez o nosso abraço
não devesse ter sido.
mas era o melhor que
eu tinha para dar.
mas sei que não estavas
com cabeça.

plim!
"chegaste e (abraço-te longe).
está frio aí? aqui está muito,
por dentro. por entre as
pessoas.
e as pessoas aí?"

plim!
(...) "visto"

falta-lhes um abraço
mais disto.
um vasto poema triste
da saudade e da morte
que prolonga
a falta. a dor.
da saudade.

fim!

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Albergue

quem diria que o gelo
é feito de fogo?!
que o icebergue
que alberga a aflição
do povo que te olha
sem sentir o fogo
é feito do calor do
teu núcleo.
eu tinha visto nesses
olhos que engoliam
e soluçavam
algum infortúnio.
algo que o destino
(e um ínfimo
do meu desconhecimento)
foram guardados nesse imenso
profundo.
prefiro o calor ao frio
gélido e tu as palavras
que te revestem de olhares
também eles meigos
no meio disso tudo.
foste para ser o frio
com 99 por cento
de fogo.
sinto
e tento
e por vezes rogo
ao meu silêncio
ser explorador
e mergulhar
no calor que são
as águas aniquilantes.
antes
morrer de calor
do que o frio
todo para lá chegar.
e no entanto
os teus olhos
são janelas
para o universo
da perdição.
com fogo se faz
o gelo que olhos
enganados
enregelam.
os outros
aos teus olhos
apelam. poeticamente
se perderam.

domingo, 10 de novembro de 2019

A Pérsia Num Quarto

Velocidade para dentro
da tua
nova identidade citadina.
Também corres
com o tempo
fechado nos caminhos
pedestres
dos "sobe e desce"
e eu só te quero sorrir
assim. em surdina.
vezes sem conta.
gostas da atenção.
Seja às tuas curvas de mulher bonita,
a saúde que em ti é jovem e não termina,
à tua fome de ter o mundo,
ou ao teu pensamento mundano.
Tu gostas da atenção
e eu sou por demais
atento.
Apresentas-me um quarto
persa no panteão
dos heróis que descansam
ao lado.
Tu por todo o lado
e eu a agarrar-me com a arte
que ali nos escondesse
o desejo. Desejo!
Desejo o próprio
desejo que tu tens por
tudo. E lá no fundo
o Tejo debaixo deste teto
persa de luxo.
Luxúria é o que de ti
quero. Quase tudo
e a velocidade dentro
da tua identidade
que me convida.
Com tanta vida! Luxo.

sábado, 9 de novembro de 2019

polidez

a polidez é como
azeite que sabe bem
em pequenas quantidades.
deixaram o prato
cheio e enjoei.
omitiram a presença
para deixar entrar
a acidez.
a minha ignorância
não é polida
em vez disso
é fome de genuidade.
tenho sorte em ser
temperado.
à mesa ou
na boca de quem
saboreia quanto baste.
e para mim pode ser
em excesso.
desde que a polidez
não venha
enjoativa.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

suculentas que ardem

não quero esse amor
que tanto estigmatiza
quem tem medo.
muito menos tenho medo.
eu cultivo o medo
das gentes
para lhes assustar
o medo das vidas.
a maioria só assusta.
a culpa é da aventura.
da descida dessas montanhas
todas.
a culpa é da solidão
que se ama.
a que mete medo
ao medo e que o desarma.
mas não te quero amor
meu.
não te quero esse amor.
por mim podes
ficar com todos os amores
do medo.
todos os medos de amor.
eu só gostava que viesses
ver comigo o medde longe.
fazê-lo pequeno.
um ponto de luz.
uma fogueira lá bem ao longe.
ardendo e consumindo-se
até morrer.
é assim que eu vejo
o amor.
e o medo.
e nós.
mesmo que nunca exista
um nós.
por ti.
depois por mim.
e depois pelo medo.

fiz um funeral com
amor. fiz um enxoval.
casei o medo
e o amor e depois
dei-os à terra.
hoje, crescem lá
suculentas
e arranjo-me de domingo
para as ir ver.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

glória desacreditada

dou por mim
procurando-te.
não de obrigação
mas de acomodação.
mais encontrar-te
pelo acaso do acaso.
o meu ocaso
da tua aurora.
outrora era eu
apenas dia
e agora sou também
sonho.
de ti com cara
de sono.
que vergonha!
não se fazem caras
bonitas assim de
caras bonitas
de sono.
de sonho.
de sopro.
sopro no teu coração
com brisa morna
de sul.
para te chegar
por esse céu azul
que de breu
se faz clareando.
vais acordando
e eu esperando.
uma aberta do teu
sorriso fechado.
aquele em que se cai
pelo os olhos escuros
para dentro desta alma
iluminando o
que andava calado.
aprecio o teu silêncio
que me faz esperado.
mascavado.
doce e um pouco
salgado.
sabor a futuro
com trago
a passado.
quero ter esses olhos
de sono
que sonho
ter acordado.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Quadros sem fotografias tuas por todo lado

Amainou a chuva
que de cima caía.
Aí de cima dos ventos
que sopravam
pulmões de uma vida.
De várias vidas.
Dívidas de frio
e de ventos a favor
com um clamor
de saudade
a futuros sonhados.
Núvens de leito
de sono acomodado.
Viajaram
para me recolher
ao calor do teu
olhar ao meu lado.
Silencioso,
com um sorriso
meio dependurado.
Uma foto de serenidade
em terra de chão
molhado.
Relva e ervado
por todo lado
e a casa é um lar
e um jardim.
Orvalho pela manhã
e bom-olhado assim
pela minha madrugada.
Como gosto da palavra
Madrugada
e o pressuposto
de ti,
em jeito de chuva
e vento de nortada.
Frio lá fora
e cá dentro resguardado.
Resguardados.
Quadros sem
fotografias tuas por
todo lado.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

trevo frio

faz frio
e o vento não nos
encontra.
este meu universo
que se deita com
esse teu universo.
não há passado
nem futuro.
há frio de agora
que nos quer quentes.
independentes.
mesmo que
não presentes.
e o frio
que mais do que
desconfortável
é o nosso espelho
de contradições.
dos nossos polos
contrários.
ora estamos em desacordo
ora estamos
no mesmo ponto.
lá onde os universos
de agora se tocam.
lá onde temos
as mesmas convicções.
lá onde o vento
nos faz encontrar
no mesmo frio.
e o desafio que
se mantém contínuo
como imutáveis
são todos os nossos
universos.

já te disse hoje
que nunca mais disse a
alguém que a amo?
faz frio também.
e o vento não nos
quer tão bem.

domingo, 3 de novembro de 2019

a dama do sinal

faço a imaginação
ser realidade.
descaradamente buscando
uma superlatividade
impossível.
uma exigência
atroz do que é sagrado.
mas nasci imberbe
e fiz-me disruptivo.
aceitei tudo
de olhos fechados
e agora abro-os tanto
para pôr em causa
quanto para sonhar.
a dama do sinal
entrou-me pelo
olhar do olhar que
caiu lá na profundidade.
lá na causalidade de uma
verdade dela
e outra inventada por mim.
faz frio ali
e no entanto iria
de tão gélido da minha
praticidade.
cada vez que escrevo
recebo um sinal
desta dama
que me inquieta.
esta trama que me arrebata
e me faz de ninguém.
e contudo sou o mais dos
humanos
deixando naufragar em mim
todos os nossos pecados e
redimindo-me aos olhos
do futuro.
se fiz mal
foi por bem
e por carregar mais peso
do que as cruzes que me doiem
de nada ter feito.
deixo mais uma carta
no correio sem destinatário
deixando mais um bilhete
de avião lá guardado.
tantos sítios
a que não voltaste...

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Perdi-te no meio dos encontros perdidos

Habituo-me à perda
de ti
com as partidas dos outros.
Os fins replicados
à exaustão das suas
felicidades futuras.
E sorrio, com cara amarga
e de braços caídos.
- Mais uma vez partiste...-
Sorrio com os dentes
cerrados
e as lágrimas que lavram
as minhas terras áridas
que já foram esperança.
Hoje olhei-a e ela ia feliz
aos olhos de alguém.
E eu sabia que esse dia
chegaria...
Mais uma vez chegou.
Sou de todos
mas sem ti de novo.
Faço-lhes o bem do momento.
Colecciono
momentos
e colo na memória de ti.
Para te fazer presente
neste meu infinito
jeito para a perda
e para o ganho alheio.
Sou menos mal
e chega-me.
Mas hoje chegou a notícia.
Hoje deflagrei
um poço sem fundo
até aos confins
onde te encontras.
Serei infinito
nestas finitudes que me
te trazem.
Tenho de sorrir um
pouco no meio
desta perda de tantos
de mim.
Tenho de te lembrar
por via te todos eles.

domingo, 27 de outubro de 2019

no verão vamos à praia

atiramos palavras uns aos outros. vemos a bola com a astúcia das peladinhas na ponta da língua. somos os senhores da palavra. das palavras atiradas. arremessadas. argumentos. jumentos. as palavras de dicionário. as ordinárias ditas formalmente. as ordinárias ordinariamente. pegamo-nos uns com os outros como o vizinho bate a vassoura e depois cruza o olhar com desdém... mas com respeitinho. as caras de mau que nos parecem atrás das palavras de ordem. as caras com o rabinho entre as pernas. o maluco mora ao lado e nós não nos estamos para chatear. mas podemos... nós é que não queremos (levar no focinho... ou no canastro para ser formal). todos falhamos a análise. todos rebatemos com o erro de percepção do outro. todos erramos uma palavra mesmo tendo estudado latim (mesmo com isso termos crescido para advogados. é um exemplo. ou críticos profissionais. é outro. ou críticos dos críticos. é ainda outro. ou apenas mais um cansado desta porra toda!). mais um jogo péssimo. mais um dia difícil para quem trabalha. mais um dia sem magia. falta-nos a magia. falta-nos a crença. falta acreditar em nós. não naquele ideal de promotores de bem-estar plástico. nem como o plástico em lixo do record da coca-cola. não nessa dimensão duma legião de seguidores. não. acreditar com reverência. ter um deus. ter uma magia para acreditar. um pai natal para nos levar de trenó até ao natal. poder estar só mas sentir que há harmonia. falta tudo. falta saber perdoar e não falar tanto sobre isso. jantar a sopa e ouvir o descalabro. não apimentar a sopa. deixar a ignorância ter palavras e silêncios. porque no final já ninguém se lembra da última teima. da última disputa que nos faz senhores da palavra e mais sós no alto do nosso monte de sabedoria e ignorância. lá em baixo no vale corre o bom senso para o mar. no verão vamos à praia.

domingo, 20 de outubro de 2019

longitudinal

encosto-me neste
canto pensando
como este livro
do meu lado descansa.
conhecimento
e eu amor.
menos de conhecimento
meu ao amor
do que o seu próprio
conhecimento.
e eu descanso
pensando porque esta
companhia
- ainda que reservada
ao seu actual "silêncio"-
me faz abraço.
acolhimento.
afago.

vejo-te ao longe
e não conheço nada
de ti.
eu tão pouco de mim.
- algo em comum, sim -

cai o dia no mesmo
limiar.
atravessa a mesma
longitude.
e tu tudo.
tudo o que eu desconheço.
tenho um fraco
pelo o que não tenho
no conhecimento.
como este livro
aqui ao lado
e tu no mesmo lado
desta distância.
uma onda que revolve.
devolve a proximidade
com essa distância.
longitudinal.

sábado, 19 de outubro de 2019

meu céu

não sei o que é
esse amor de novela.
não sei convencer-me
nem sequer comover-me
com esse sentimento
que se sela
e se envia
de uma terra
para a outra.
de um planeta
para uma estrela.
de uma ânsia
de estância turística
onde o prazer
se dá enquanto se lá está.
e lá está,
não sei nada desse amor
se é que sei alguma
coisa de amor.
sei que não sei
amar
como os demais
e que estar só
não é estar sem amor.
pelo menos desse
que se fala.
que se vive na tela.
no telefone.
sozinho não é novela,
é de estar com alguém
que não nos consome,
que se revela
ser amante
do mesmo nome
da mesma terra
do mesmo sentimento.
Sedimento de propor-me
ao meu chão
e ao meu céu
sem estrela de enviar
mas universo de prostrar.
palavra simples
de ser a velhice de mim
e o sempre para todos.
amar ninguém tanto
como sei amar todos
como o céu todo
que e o teto da minha casa.
tudo vem
e tudo passa.
fico aqui
onde tudo rechassa
e no meu céu se guarda.
dou graças.
dou-me guarda.

sorrir por sorrir

pedem-me para
pôr um sorriso na cara.
desenvolvem histórias
e artifícios de vida
para se compararem
ao sucesso
e aos sorrisos dos demais.
pois também gosto
de ter a minha cara
fechada
e chorar quando devo.
gosto de sorrir depois
dos funerais.
gosto de não partilhar
as minhas felicidades.
adoro não tirar todas
as fotografias
e guardar memória de tudo.
até dos dias sem sorriso.
um dia se morrer
que tenha de ser por
tudo o que passei
e sem grandes arrependimentos.
deve ser doloroso
morrer com mais coisas
por resolver
do que algum sorriso
que nos fique bem no caixão
aberto.
não quero falar de felicidade
se tenho tanta coisa
para fazer.

domingo, 13 de outubro de 2019

cartas perdidas no correio do passado

hoje apaixonei-me de novo por ti. no olhar ficou o reflexo do meu. como posso eu ficar tão belo? como as tuas curvas me fazem a mulher mais bela do mundo? sexo não é o meu desejo de te ter... é estar dentro de ti e sentir o que é seres tu.

[...]
queria ter-te amado esse corpo todo. beijar-te até que amasses ser beijada de novo. explodires em fogo de artifício repetidos em quarto sem tecto. o céu era teu. as estrelas nossas. e a cama festejo de ti. beijos

Desaparecimento

despeço-me.
despeito
e ignorância
de saber melhor
de saber fazer melhor.
grito engolido
até às profundezas
do desaparecimento
à morte desta loucura
que nos assola.
não há amor que console
e esperança que se mantenha
vertical.
cai tudo por terra
mal se ajoelhe.
reza perdida no barulho
das notícias.
dor e ódio.
corropio de nadas
e inferioridade
da tentativa.
morrem tantos
e tantos que assim
ficam vivos.
de joelhos.
de pé.
dependurados.
está tudo acabado
e eu não sei quem sou.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

universo meu tem

mas eu estou aqui.
olha!
olhem!
(grito... salto)
nada.
de tempos
a tempos desapareço.
não faço aqui
nem ali o que seja.
desaparecido
e sem ninguém para
me reaver.
acho que estes devem
ser os gritos de medo
que na velhice
se ficam pelas paredes
solitárias dos seus quartos.
a morte a se avizinhar
e ninguém para nos
ouvir.
será que fizemos tudo
mal antes?
será que este é o aviso
para me encontrar
na solidão?
pois não olhem!
não estou a gritar
mesmo que tenha tanto
de velho
como de gaiato.
grito com a boca do universo.
quero o seu eco
e tudo o que acho que mereço
de bem.
vem!
e se me ouvires,
vem!
vem universo
que tudo de meu
tem!

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

A poesia dos outros

Perco-me na poesia
dos outros
mas por instantes apenas.
A luta pelo amor
é uma fantasia
que rasga de repente
em sangue e desprazer.
Despeito, destino
ou de nada dizer.
Tenho silêncio
porque sou um túmulo
dos amores.
Um sobrevivente das histórias
que deleitam o coração.
Que dinamitam
como uma oração
a fé num incrédulo.
E no entanto estou mais
vivo,
convicto que trato
de qualquer peito
amachucado
com alguma razão
e outro tanto de desapego.
Vem sem medo
se vens ao abrigo
da esperança.
Dança comigo mesmo
que ao passo
não te enfeites
e ao meu lado te deites.
Dancemos pois
enquanto a canção
não se esqueça de nós.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

tempo destemperado

és o meu contra-luz
de verão,
meu "contra-verão"
que o outono produz.
o tempo anda louco
com os loucos de nós
que o pusémos assim.
e no fim
o que se induz
é que ficamos loucos
do tempo estar
destempado.
destemperado.
raia o sol
quase doutro lado.
fugi como quem
tenha para o outro
lado do mundo voado.
à velocidade da luz
à velocidade insanado
ah velocidade
destravada!
páro com isto.
travo a fundo
e fico aqui parado.
até chegar mais um outono
e outro inverno já aqui
ao lado.
e o tempo vai veloz
por mim travado.
e não pára e eu
de novo envelheço.
despeço-me como
o sol no leito do mar
ali deitado.
venha o tempo então!
venha melhor qualificado.

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Pé de Vento

fico sem vontade
de escrever.
tanta palavra mal gasta
tanta palavra cara
dada ao desbarato
tanta palavra a mais
correndo à apreciação.
o meu medo era este.
escrever para a atenção.
solidão exposta por aí
sem dar vazão
à paz que escapa.
escrevo como a reza
antes de dormir
e como masturbação.
carta endereçada ao seio
do coração.
às vezes mais seio
mais mama
outras mais peito
mais coração.
mas é palavra que ganha vida
na visão doutros.
deixa de ser minha
para passar a ser obra
ou apenas nota de rodapé.
mas para a fé,
alguma,
pouca,
que faça a alma inquieta
a mente mais desperta
ganhar pé
altitude
e profundidade.
há-de haver um dia
que escreverei tão bem
que possa desistir da atenção.
(cada vez que escrevo
parto dessa intenção).

domingo, 29 de setembro de 2019

Causa de morte: Doença prolongada

adoeço da falta de ti.
se o cosmos interfere
tem-me ferido de morte
a cada dia que passa.
a dor que te evitei
- que faço aos que quero bem -
adoece-me a cada dia.
se é para aprender
já sabia antes do fim e
a dor é a replica
diária após o fim.
e julgávamos após esse fim
que tudo terminaria,
não podíamos estar mais
enganados.
mais apartados
e com a aguda ruptura
a apertar
e este o amor que te
tenho e a todos.
se houve um filho
do pai na terra
então sinto essa ínfima
materialização.
essa história de dádiva
mesmo com o desaparecimento.
e se o amor me rogou
uma praga morrerei
com mais dores
do que o mundo viu
pois elas perduram
muito para além do fim.
e se amar dói tanto assim
desejo que ninguém ame.
que ninguém adoeça assim.

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Indelével

Passei
passarei
permanecerei
indelével.
Invisível ao cuidado
abstracto convidado
na vida dos que
entrei.
tenho de passar
nos mil e tal
para uma pessoa
ser minha de tocar,
de eu ser tocado.
sou foz ao mar
dessa gente toda.
padeço nuns
e germina-se a palavra
em poucos.
um fundamentalista
do retorno...
eterno retorno
de a mil e tal
volver um,
dois.
nós os dois de cada
vez.
são mais as marés
do que posso
merecer.
indelével não é
prepotência
e a cadência com que vos
quero
e a vida me dá de volta.
aquele que não nota
e mais outro
e outra
e outro
e outra
até que invisível
amor brota.
e o amor volta.
e o amor nota-se
indelével.

Chovem Abraços

este é o abraço
de um todo
multplicado
em pequenas partes
de reverso.
de retorno.
de um universo em transtorno
e os olhos que assentam
noutros universos
que compomos.
um toque que não
doa,
não morda como
os dentes que acariciam
quando a paixão
comanda.
que venha paixão
e abraços
apertados
de querer dar.
(essa é a demanda!)
de espremer
a dor para fora
em reciclagem
desse plástico amor
que se mantém
como garrafa perdida
no tempo.
decompondo-se lentamente
e sem água.
dilua-se a mágoa
em abraços
de lábios e do tempo
lavado
em chuva celestial.
sejamos menos corpos
e mais líquidos
quando o mar se encontra
com os rios.
os rios com céu
o céu longe do
inferno.
seja inverno o abraço.
seja eterno enquanto
durar
sabendo que tudo se transforma
desde que líquido
sejamos nós
e o nosso abraço.

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

sorriso de tolo

cada vez mais sozinho
sendo de todos.
cada vez mais alegre
como o são os tolos.
e assim sou eu
conhecendo-me
pelo inteiro
de cada parte.
não fui feito desta
matéria
e sou de tão mau
como de mediano
como de louco.
tão bom
de tão pouco.
o mais novo
dos novos velhos
dos miúdos
que recebo nos meus
meandros imperfeitos.
olham-me os olhos
atentos.
e vendo-me.
vendo tudo com outros
olhos e vendo-me
por caro
como do mais barato.
uma pechincha
que incha desincha
e passa como o meu
velho dizia.
uma razia de tudo
conquistado
e fica sempre o mesmo
fado de recomeçar algo.
calo-me mas não me
silencio.
sentencio o meu futuro
como tudo perdido
por tudo ter que ganhar.
e não parece nada
senão tudo o
que foi já conquistado.
já fui amado
e já fui a nenhum lado.
agora estou aqui
no meio de tudo
sozinho
melhor que acompanhado
sem saber se isso
é melhor.
talvez.
amanhã é outro lado.
é outro estado.
é a minha vez.
talvez... não estou interessado.

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

os teus Desejos

Há um retorno
nesta minha animalidade
carnívora do desejo
contigo,
um regresso teu
que busca mais poesia.
Mais desejo
em surdina
que me dita as palavras
para te seduzir.
Mas isso é um tipo
de amor.
Mas isso é um tipo
de dança.
Sim quero voar
secretamente contigo
mesmo que a tua boca
não grite
o mesmo desejo.
Mesmo que ela
me beije e me cale.
Mesmo que os lábios
se contorçam
nos meus ouvidos
e aí verdadeiros,
secretos,
me desejem,
ou me amem as palavras.
Como não amar
os teus desejos?

Vidas Sumptuosas

ainda cresce
por entre fendas no betão
o optimismo.
aquele de desgraçado
que encontra pão no lixo.
que encontra água
esquecida e relegada.
(ah houvesse crise dela
e andava toda a gente
a ela agarrada!).
aquele optimismo de ver
na mudança
um passo para outros
problemas diferentes.
seria de sábio soubesse
eu minimamente o que
aqui estou a fazer.
imagino-me a fazer
uma caminhada para apenas
aprender a morrer
em paz.
fazer os outros sorrir.
pintar-lhes com luzes
ilusões, optimismos vãos,
para que nada lhes falte.
e a mim falta-me este tudo.
esta inconstância
que busca uma regularidade
"menos má"
e desbravar silvas e urtigas
para me sentar no cume
do fim.
queria eu ter riquezas
para morrer mais tarde
e repleto de sumptuosidade.
para quê?
morrer mais amedrontado
com a morte?

domingo, 22 de setembro de 2019

lua minguante

vem jantar comigo
vem fazer um poema na areia
um beijo à lua minguante
um abraço nas estrelas cadentes
depois do sol poente
e a noite de repente
fazer igual em diferente
aqui e ali
atrás e à frente.
pretendente.
presente e distante.
avante se é para soltar
o beijo na poesia.
a poesia no desejo
de aproveitar a noite do dia
e a palavra da musa
que agora me distraía.
me embebia
e agora deve ao universo
um sorriso dos dias
passados em diante.

sábado, 21 de setembro de 2019

Garças

Provoca-me!
Provoca-me vida nesta
alma putrefacta
de vidas passadas.
De carne que pela
minha carne pelou.
Pelo o amor
à vida dá-me razões
para um dia morrer
e não ir para o céu.
É longe e o infinito
é demais.
Sou tão mediano
que nem lá cima nem
no fundo do oceano.
Só por aqui
com as vidas passadas
as almas
encostadas
e a morte para os bichinhos
mundanos.
Posso voltar a ser árvore
se é que é para ser mais
próximo de um deus.
A elevação de quem
sucumbe e planeia
não ser mais alto do que
isso.
Provoca-me a chegar a ti
como os ramos ao céu.
Sejamos dia de ramos
e de darmos graças
às garças que voam
e a ti por saberes
provocar.
De graça e de me elevares.

Certo e que não volto para trás

desapareço da vista de todos. aqui onde nem eu sei quem sou e nem me desejo ver. poder de transformação que me leve a ser o quiser de mim. arte de morrer e retornar aos olhos de quem sabe corrê-los para ir adormecendo. limbo de não distinguir realidade e transe. eu não sou eu e o monstro que paira nas minhas palavras é uma fantasia bem real que vem do artista. ele que me inventa nas suas canções e eu uma representação de mim tentando ser real. caem-me as lágrimas nas conversas com quem falo e que amo à distância dos dias que passo longe e calado comigo. escrevo isso tudo. relato-me essas coisas tangíveis mas que apenas toco com memórias ainda por criar. será que quero? será que isto me merece um olhar atento ou nem o desejo me quer para ficar? sou os contrários e o que ainda não sei ser. certo é que não volto para trás.

domingo, 15 de setembro de 2019

Sabor da Boca

É desse saber
não ser quem sou
em cada momento
que me faz mais certo
desta minha realidade.
Da realidade por onde
andamos a caminhar
cheios de relflexos.
Sei que nesse jogo
de espelhos eu
sou a carne viva
que reproduz esses eus
todos.
Mas também sei que
em todos eles
existe alguém que amei.
Neste que aqui se
perfila existe apenas
o sabor certo e
Bom na boca.
O da tua.
E a saudade
não ma rouba
nem ma faz esquecer.
Nem que para isso
me acorde no meio
do sonho.
O sonho
é ter-te ainda
no sabor da boca.

sábado, 14 de setembro de 2019

Noites Desavindas Manhãs

dás-me o prazer
das noites desavindas
na manhã.
busco na poesia
que me dás
a inocência do pecado.
irmã do argumento
para no teu seio
ver-me inundado.
busco o teu lado
malicioso
que se esconde
na face rosada
da timidez.
traga-me tu à vez,
como se de velho
só sobrasse o tempo
que te venero
do cabelo aos pés.
quero todos os teus
pecados.
quero todos os teus
mais maliciosos
actos disputar.
quero ser pornográfico
e a arte fotográfica
do tempo estagnar.
fazer-te poesia
nos intervalos
doa nossos excessos
da carne.
o sexo ser a nossa arte
e a humanidade a nossa
arma
de atirar rosas ao mundo.
venho-me só
mas convicto que mexi
mais um segundo
no tudo
que tenho a perder
em cada beijo
e ensaio do nosso
prazer.
Ordena-me um pecado
teu para eu esconder
no meio da poesia
de te fazer perder!

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Estranha Forma

Escreverei como
o fado lhe sabia.
Cantar como
me perdia
e fui o que ele
ousou por demais
ser.
Sonhei um dia
ser assim,
maior do que o
mundo
maior do que a
mim.
Cantou-me o fado
a minha mãe
embalou-me de fininho
quando rezava
ou cantava
o milagre de ser
seu filho tão vívido.
Seu santinho de
ousar viver com o poema
e o cheiro a alfazema
da roupa lavada.
Senhora minha mãe
que amava
e trabalhava como
declamava a vida.
Declamava
o poesia e a letra
arranjada.
Hoje chorei o eco
do bem que fazia
por um fadista
sem o ser.
Outro que como ela
sobrevive
onde a saudade
o olhar consegue
humedecer.
De tristeza mas de amor.
Seja à mãe
a outro senhor ou senhora
ou só uma flor.
Hoje caíram-me lágrimas
de a ter encontrado em mim
noutro homem.
Maior que a vida
e maior do que a minha canção.
Hoje cantei o fado
sem nunca ter interpretado
a intençâo sequer.
Hoje a minha voz
calou-se desta solidão
que é estar onde não estou
de coração.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Imolados Imaculados

imolado e imaculado.
duas palavras.
imolado... imaculado.
imaculado... imolado.
nascemos limpos.
crescemos com o poder do fogo.
morremos aos bocados
do seu todo.
queimamos e voltamos
a um todo.
imaculado soldo
de uma vida que arde.
em que ardemos isolados.
reencontrados com as cinzas
dos nossos antepassados.
dos nossos aguardados
amores.
trabalharmos para sobreviver
e arder.
consumimo-nos na dor
e no prazer.
imolados para voltarmos
a ser imaculados.
desvanecer.
desSer.

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Talvez de Novo

pedaços de papel
espalhados pelos
bolsos de tanta gente.
como se fossem
notas de vinte escudos
a que quase ninguém
daria valor agora.
o que eram esses vinte
paus em miúdo?
um sorvete.
uma delícia que se
deixa mas sem o valor
do próprio bolso.
essa imagem que foge
e termos um valor
ultrapassado.
venha uma moda
para alguém ser relembrado.
mas que não venha!
sejamos um sorvete
de frio soviético
que também já não se
lembram.
voltemos a ser
o que todos se esquecem.
se deste valor ao sorvete
se leste as notícias naquele
tempo.
se foste platónica
como a timidez que me fez
ler.
e ler para escrever.
e ver valor no que já ninguém
vê.
sejamos um tempo
qualquer
em que fomos juntos
num qualquer pedaço de papel
que te mandei
para namorares comigo.
sim.
não.
talvez.
Talvez.
Talvez de novo.

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

As Costas do Mar

dar a costas assim

   és inevitavelmente terra onde
poetas se transformam navegantes.

que se convencem aventureiros
e tu apenas mundo

nunca será como dantes
  se é que algum dia o mar foi nosso

mas é sem receio
que os poetas navegam
e eu posso

se nem daqui se aviste um fim
se nem daí visses a profundidade
  de mim.

mas és costas do mundo
e eu poeta sem ser
   mesmo navegante.

se isso permitisse Tudo
  se eu tivesse sido o Antes
se tu tivesses sido Tanto

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Flor de sol, fel e mel

Este silêncio
que corrói
é também o que
prova o fel do mel.
Podemos esperar
pela manhã seguinte
o amor que não
vem
ou apenas o sol
que te leva
ao seu sabor.
Podia ser mel
mas o fel é da espera
do amor que não
vem.
É ser apenas flor
e das suas miudezas
e do que melhor lhe
convém.
Com o tempo
dobramo-nos
ao seu intento
com o sabor
que daí provém.
Seja por assim ser
seja por algum bem.
Seja assim para ti
também.
Flor de sol, fel e mel.

terça-feira, 27 de agosto de 2019

Teu peito Senhora

foi o teu peito
que me quis.
são coisas
simples.
a profundidade
do teu olhar.
e depois o teu peito.
um aperto
um abraço
e no meu peito
o teu.
que desgraça tão
boa.
e que vontade
tão louca de não te
largar.

fica a poesia
e o teu jeito
na heresia
que é a minha
fantasia.

o teu seio
o teu outro seio
o meu aperto.
ter-te por perto.
corpo contra corpo.
fome.
desejo.
desejo que te tome.

o corpo.
o peito.
o seio.
o homem.
a mulher que some.
a oportunidade
não dorme.
há tanta hora

e agora?

toma-me.
com sede.
com fome.
telefona-me.